sexta-feira, 18 de março de 2011

Jogo de Valores só complica definição da TV no brasileirão

O Grêmio foi o primeiro clube a publicamente anunciar o acerto com a Globo para a transmissão de seus jogos do Campeonato Brasileiro pelos próximos quatro anos. Os detalhes do acordo, porém, não foram revelados, o que iniciou uma queda de braço e um corre-corre entre os próprios clubes para saber o quanto realmente entrará nos cofres gremistas.
Na noite desta quinta-feira, a Record aproveitou para jogar mais lenha na fogueira, dizendo que registraria em cartório ofertas para Corinthians e Flamengo no valor de R$ 100 milhões ao ano cada uma pela transmissão apenas na TV aberta dos jogos dos dois times no Brasileirão. A estratégia da Record é mexer com a cabeça de outros clubes que ainda não fecharam com a Globo e de jogarem nas costas dos dois primeiros dissidentes do Clube dos 13 a responsabilidade de, talvez, fecharem por um valor menor seus contratos de TV (leia a reportagem completa aqui).
Esse é o primeiro reflexo da instabilidade que vai tomar conta do futebol brasileiro nas próximas semanas, enquanto essas negociações continuarem.
Uma coisa é certa. A Globo tem balizado suas negociações conforme uma realidade de mercado. O Grêmio não vai conseguir triplicar suas receitas com TV neste momento, uma vez que a Globo tem trabalhado com ofertas próximas do dobro do que era ganho pelos clubes, o que seria o cenário ideal imaginado pelo C13 quando abriu a licitação pelos direitos.
A implosão do C13 está mais do que certa. O problema é conseguir reunir todo mundo e juntar os cacos de negociações frustradas e pouco transparentes depois disso. Apesar de todos os absurdos de princípio da entidade que representava até pouco tempo os 20 clubes de maior torcida do Brasil (o que já era, de partida, um erro, por não ser representativo dos 20 clubes da Série A do Brasileiro), fatalmente o futebol brasileiro dá um passo para trás.
Tal qual o mercado de patrocínio dos clubes, que é dominado pela total falta de transparência e amadorismo na relação dos valores envolvidos, agora a televisão também caminha para esse processo. Para o torcedor comum, talvez isso pareça não significar qualquer problema, já que, iludido pelas declarações pouco responsáveis dos dirigentes, cifras mágicas parecerão a mais pura verdade.
Só que o mercado tem cada vez mais deixado de ser amador. Não existe empresa que acredite em declarações efusivas de valores totalmente fora do padrão.
A discussão da TV se perde, mais uma vez, nos valores que A, B ou C ganham, dizem que ganham ou acham que deveriam ganhar. O torcedor quer contar vantagem do rival na conversa de bar, dizendo que seu clube vale mais que o do outro. Mas ele não consegue entender que, quando não existe união entre os clubes em negociações, quem perde são os próprios clubes. Principalmente porque, a partir de agora, quase nada do que se falar em termos de valores de contratos de TV é verdade.
E, nesse sentido, complica-se cada vez mais o cenário para que tenhamos uma definição de qual emissora exibirá a competição no ano que vem. E aí será complicado para o torcedor entender que o orgulho de ver o time ganhar mais poderá significar que ele simplesmente não conseguirá acompanhar seu time pela TV a partir de 2012.
O cenário continua absolutamente enevoado. Era tudo o que as TVs precisavam para não gastar tanto com o produto futebol e, mais do que isso, perpetuar a desunião entre os clubes, o que só enfraquece o poder de negociação dos times, fazendo com que o melhor produto para a televisão brasileira valha muito menos do que poderia.

por Erich Beting  - http://negociosdoesporte.blogosfera.uol.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário